MOVIMENTOS NATURAIS
OS MOVIMENTOS NATURAIS
William Pereira da Silva
Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha
"Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel... A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes são feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiçoe as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para levantá-la."
Dar para percerber neste trecho acima citado da carta de Pero Vaz de Caminha, que os indios encontrados no Brasil, eram mais de dois milhões, formavam uma população de seres humanos saudaveis, corados, fortes que sabiam nadar, pescar, remar, correr, inclusive muitos anos depois descobriram em suas culturas várias atividades esportivas como exemplo a corrida do tronco, corridas de canoas, competição de pesca, danças e outras atividades físicas. Percebe-se tambem que o jogo de xadrez já fazia parte da tripulação dos navios da frota de Cabral. Percebe-se também que, eram livres, não havia ninguém para ensinar nada sobre sua saúde e movimentos corporais, aprendiam com a natureza e a experiência dos mais velhos.
A nona edição dos Jogos indígenas será realizada de 24 de novembro a 1º de dezembro. As provas serão distribuídas em Recife e Olinda. . O evento é realizado desde outubro de 1996, sob o patrocínio do Ministério Extraordinário dos Esportes, por meio das secretarias de esporte e prefeituras dos estados que acolhem o evento, com o apoio da Funai, responsável pela mobilização dos participantes do evento. As modalidades existentes são; Arco e Flecha, Cabo de guerra, Canoagem, Atletismo, Corrida com tora, Xikunahity, (Futebol de cabeça, pronuncia-se Zikunariti, na linguagem dos Paresi e Hiara na língua dos Enawenê Nawê, a Prova consiste numa espécie de futebol, em que o chute só pode ser dado usando a cabeça. É um esporte praticado tradicionalmente pelos povos Paresi, Salumã, Irántxe, Mamaidê e Enawenê-Nawê, de Mato Grosso. É disputado por duas equipes que podem possuir oito, dez ou mais atletas e um capitão é realizada em campo de terra batida, para que a bola ganhe impulso.),Futebol, Arremesso de lança, Luta corporal, Natação, Zarabatana, Rõkrã ( Jogo coletivo tradicional praticado pelo Povo Kayapó do estado do Pará. Jogado em um campo de tamanho semelhante ao do futebol. Se desenvolve entre duas equipes de 10 ou mais atletas de cada lado, onde todos usam uma espécie de borduna (bastão), cujo objetivo é rebater uma pequena bola (coco) que ao ultrapassar a linha de fundo de seu oponente, marca um ponto. De acordo com informações dos kayapó, esse esporte já não estava mais sendo praticado devido a sua violência que causava graves contusões nos competidores, essa modalidade tem muita semelhança com um dos esportes mais populares do Canadá, o Lacrosse, coincidentemente considerado de origem indígena daquele país.)
O questionamento em voga é refletir e perguntar; quem ensinou aos indígenas todos esses esportes? Donde eles adquiriam essas habilidades? Havia Professores ou Profissionais de Educação Física? Evidentemente que não. Toda essa aprendizagem vinha dos movimentos naturais necessários a sua sobrevivência juntamente com a necessidade de caçar, pescar, atravessar rios a nado, subir em arvores, correr para diminuir o tempo nas distancia, criar brincadeiras nas horas de ócio, preparar-se para as guerras, construir abrigos, manipular alimentos, confeccionar utensílios e vestimentas. Tudo que aprendiam era com os elementos da natureza e repassado de gerações em geração através da genética e do poder da imitação, na qual é uma poderosa ferramenta de aprendizagem no desenvolvimento dos movimentos humanos. Pela imitação aprendemos muito mais a desenvolver os movimentos tanto na dança como nos esportes ou em qualquer atividade que exijam os movimentos.
Pode-se pensar que, eu, como professor de educação física, sou contra a minha profissão, em hipótese alguma penso assim, mas sei que o nosso papel deve ser de educador e repassar para todos a cultura do movimento humano para que possamos vencer as barreiras que o mundo moderno impõe a cada dia, onde nossos espaços são reduzidos e o conforto da tecnologia nos torna pessoas ociosas, levando também a obesidade pela farta opção de alimentos. Somos induzidos a consumir muito e não temos espaços adequados para as atividades físicas e isso fez perdemos a capacidade de exercitar nossos movimentos naturais.
Devemos ter ciências da nossa capacidade criativa na qual somos capazes de criar e executar diversos movimentos sem a necessidade de nenhum profissional ou professor interferir. A cultura humana tem mostrado isso através dos milênios onde diversas delas tem sido a criadora de danças, artes marciais, esportes e das milhares atividades dos movimentos humanos desde os primórdios da humanidade. O professor como educador deve ensinar, estimular, demonstrar, estudar, pesquisar, propor, fazer valer a busca da cultura dos movimentos humanos nas diversas épocas, como fator histórico, aplicando nossos conhecimentos nas diversas áreas onde existir e necessitar das atividades dos movimentos humanos.
Ninguém ensina a ninguém a mamar, pegar, jogar, engatinhar, arrastar, andar, correr, pular, rolar... Apenas auxiliam no processo natural do desenvolvimentos dos movimentos. Já dizia o grande educador Paulo Freire; "Ninguém educa ninguém, as pessoas se educam em comunhão". E aasim também ocorre com os movimentos humanos.
OS MOVIMENTOS NATURAIS
William Pereira da Silva
Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha
"Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel... A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes são feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiçoe as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para levantá-la."
Dar para percerber neste trecho acima citado da carta de Pero Vaz de Caminha, que os indios encontrados no Brasil, eram mais de dois milhões, formavam uma população de seres humanos saudaveis, corados, fortes que sabiam nadar, pescar, remar, correr, inclusive muitos anos depois descobriram em suas culturas várias atividades esportivas como exemplo a corrida do tronco, corridas de canoas, competição de pesca, danças e outras atividades físicas. Percebe-se tambem que o jogo de xadrez já fazia parte da tripulação dos navios da frota de Cabral. Percebe-se também que, eram livres, não havia ninguém para ensinar nada sobre sua saúde e movimentos corporais, aprendiam com a natureza e a experiência dos mais velhos.
A nona edição dos Jogos indígenas será realizada de 24 de novembro a 1º de dezembro. As provas serão distribuídas em Recife e Olinda. . O evento é realizado desde outubro de 1996, sob o patrocínio do Ministério Extraordinário dos Esportes, por meio das secretarias de esporte e prefeituras dos estados que acolhem o evento, com o apoio da Funai, responsável pela mobilização dos participantes do evento. As modalidades existentes são; Arco e Flecha, Cabo de guerra, Canoagem, Atletismo, Corrida com tora, Xikunahity, (Futebol de cabeça, pronuncia-se Zikunariti, na linguagem dos Paresi e Hiara na língua dos Enawenê Nawê, a Prova consiste numa espécie de futebol, em que o chute só pode ser dado usando a cabeça. É um esporte praticado tradicionalmente pelos povos Paresi, Salumã, Irántxe, Mamaidê e Enawenê-Nawê, de Mato Grosso. É disputado por duas equipes que podem possuir oito, dez ou mais atletas e um capitão é realizada em campo de terra batida, para que a bola ganhe impulso.),Futebol, Arremesso de lança, Luta corporal, Natação, Zarabatana, Rõkrã ( Jogo coletivo tradicional praticado pelo Povo Kayapó do estado do Pará. Jogado em um campo de tamanho semelhante ao do futebol. Se desenvolve entre duas equipes de 10 ou mais atletas de cada lado, onde todos usam uma espécie de borduna (bastão), cujo objetivo é rebater uma pequena bola (coco) que ao ultrapassar a linha de fundo de seu oponente, marca um ponto. De acordo com informações dos kayapó, esse esporte já não estava mais sendo praticado devido a sua violência que causava graves contusões nos competidores, essa modalidade tem muita semelhança com um dos esportes mais populares do Canadá, o Lacrosse, coincidentemente considerado de origem indígena daquele país.)
O questionamento em voga é refletir e perguntar; quem ensinou aos indígenas todos esses esportes? Donde eles adquiriam essas habilidades? Havia Professores ou Profissionais de Educação Física? Evidentemente que não. Toda essa aprendizagem vinha dos movimentos naturais necessários a sua sobrevivência juntamente com a necessidade de caçar, pescar, atravessar rios a nado, subir em arvores, correr para diminuir o tempo nas distancia, criar brincadeiras nas horas de ócio, preparar-se para as guerras, construir abrigos, manipular alimentos, confeccionar utensílios e vestimentas. Tudo que aprendiam era com os elementos da natureza e repassado de gerações em geração através da genética e do poder da imitação, na qual é uma poderosa ferramenta de aprendizagem no desenvolvimento dos movimentos humanos. Pela imitação aprendemos muito mais a desenvolver os movimentos tanto na dança como nos esportes ou em qualquer atividade que exijam os movimentos.
Pode-se pensar que, eu, como professor de educação física, sou contra a minha profissão, em hipótese alguma penso assim, mas sei que o nosso papel deve ser de educador e repassar para todos a cultura do movimento humano para que possamos vencer as barreiras que o mundo moderno impõe a cada dia, onde nossos espaços são reduzidos e o conforto da tecnologia nos torna pessoas ociosas, levando também a obesidade pela farta opção de alimentos. Somos induzidos a consumir muito e não temos espaços adequados para as atividades físicas e isso fez perdemos a capacidade de exercitar nossos movimentos naturais.
Devemos ter ciências da nossa capacidade criativa na qual somos capazes de criar e executar diversos movimentos sem a necessidade de nenhum profissional ou professor interferir. A cultura humana tem mostrado isso através dos milênios onde diversas delas tem sido a criadora de danças, artes marciais, esportes e das milhares atividades dos movimentos humanos desde os primórdios da humanidade. O professor como educador deve ensinar, estimular, demonstrar, estudar, pesquisar, propor, fazer valer a busca da cultura dos movimentos humanos nas diversas épocas, como fator histórico, aplicando nossos conhecimentos nas diversas áreas onde existir e necessitar das atividades dos movimentos humanos.
Ninguém ensina a ninguém a mamar, pegar, jogar, engatinhar, arrastar, andar, correr, pular, rolar... Apenas auxiliam no processo natural do desenvolvimentos dos movimentos. Já dizia o grande educador Paulo Freire; "Ninguém educa ninguém, as pessoas se educam em comunhão". E aasim também ocorre com os movimentos humanos.
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