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Utilização de recursos materiais nas aulas de Educação Física Posted: 13 Aug 2012 03:14 AM PDT A atividade de planejar se apresenta na vida de todos. Programa-se o dia, organiza-se a agenda de compromissos, planeja-se uma viagem, a compra de um imóvel, a carreira profissional. Nessas práticas de planejamento, buscamos a concretização de nossos objetivos. Em diversas atividades, é fundamental que o planejamento seja sistemático para tornar-se mais eficiente. Assim, complementamos a imaginação e os planos mentais, colocando no papel tudo aquilo que pretendemos fazer. Quando nos voltamos para o âmbito escolar, a necessidade de planejar torna-se mais evidente, pois o trabalho pedagógico envolve a elaboração de um "projeto". Para Machado (1997), ao elaborar um projeto definimos todo o caminho que a escola pretende percorrer para atingir seu objetivo. Ao projetar, são propostas também algumas soluções para possíveis problemas futuros, ou seja, há uma antecipação dos acontecimentos. Nesta perspectiva, a palavra "projeto" significa algo lançado para frente, designando tanto aquilo que se quer realizar como o que será feito para atingir tal meta. Quando nos referimos à educação, palavra associada ao ato de conduzir a finalidades socialmente prefiguradas, presumimos a existência de projetos coletivos. Silva (2000) enfatiza que esses projetos são determinados pela busca da globalidade, com a superação de expectativas pessoais em prol do coletivo, gerando uma responsabilidade mútua entre os participantes. É com o auxílio do projeto que se constrói os planejamentos específicos de cada componente do currículo escolar. O planejamento educacional envolve um processo de reflexão e decisão, constituído por várias etapas para permitir maior controle e organização dos acontecimentos. Pode tornar-se mais eficiente quando elaborado em conjunto com outros professores, pois evita repetições ou ausência de determinada temática. Além disso, como salienta Vasconcellos (1995), o envolvimento dos alunos tornará o processo de ensino-aprendizagem mais significativo. A definição dos espaços e materiais que serão utilizados em cada aula, tarefa cotidiana de todos os professores, independente de sua área de conhecimento, constitui uma das etapas do planejamento. Na Educação Física, os recursos materiais merecem uma atenção destacada diante das especificidades existentes. As aulas, normalmente realizadas em ambiente aberto como quadras e pátios, estão sujeitas às variações metereológicas. Essa inconstância, por vezes utilizada para justificar o cancelamento de aulas e atividades, só evidencia a relevância do planejamento ainda mais elaborado, pois nele serão previstas atividades e espaços alternativos, caso haja a impossibilidade da utilização dos meios convencionais, como a quadra. Ao analisar livros ou propostas pedagógicas existentes na área, percebe-se o destaque atribuído aos recursos materiais. Freire (1997), por exemplo, descreve atividades nas quais a utilização de bolas, arcos, bastões, cordas e até mesmo materiais feitos com garrafas e copos descartáveis, são indispensáveis para proporcionar ao aluno a troca com o meio e atribuição de novos significados ao brinquedo. É importante que esses materiais sejam diversificados quanto ao peso, tipo, cor e tamanho, exigindo do aluno constantes adaptações e ajustamentos de conhecimentos previamente adquiridos. Batista (2003) também exemplifica, na descrição de algumas atividades, a utilização de diversos materiais para trabalhar equilíbrio, habilidades com a bola e atividades em grupo. Venâncio e Carreiro (2005) descrevem atividades como ginástica artística e lutas, nas quais a utilização de materiais é indispensável. Dessa forma, podemos afirmar que o professor terá mais condições para realizar um trabalho de melhor qualidade, se a escola em que atua lhe oferecer espaços e recursos materiais adequados. Na realidade social brasileira, há uma quantidade grande de escolas, principalmente públicas, que não apresentam espaço físico adequado ou quantidade suficiente de materiais. Segundo Soler (2003), o espaço existente para as aulas de Educação Física, muitas vezes se resume a pátios e salas de aula. Essa má distribuição do espaço físico acontece logo na construção de uma unidade escolar, quando não está entre as prioridades a alocação de espaço próprio para as aulas de Educação Física (BATISTA, 2003). Estas observações podem ser complementadas com dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), os quais indicavam que, em 2006, das 159.016 escolas de Ensino Fundamental no Brasil (públicas e particulares), apenas 44.763 possuíam quadra poliesportiva (BRASIL, 2006), o que representava 28% do total, aproximadamente. Comparando com os indicadores de 1999, apresentados por Matos (2005), houve um crescimento no número de estabelecimentos de ensino que possuem quadras. No entanto, o crescimento ainda é insuficiente. Diante dessa situação, muitos profissionais alegam que sem recursos materiais não há condições para a preparação e aplicação de aulas adequadas (SOLER, 2003) e frequentemente excluem determinadas atividades de seu programa de ensino (FREIRE, 1997). Pelo exposto, ao iniciar as atividades de estágio em escola da rede pública de ensino na cidade de São Paulo, a expectativa existente era de encontrar um ambiente no qual a ausência de recursos materiais fosse marcante. Acreditava-se também que essa situação pudesse ser utilizada pelos professores para justificar a elaboração de aulas menos diversificadas, a negligência de determinados conteúdos, ou mesmo a falta de participação dos alunos nas atividades propostas. Contudo, a realidade observada causou grande surpresa: havia uma professora que, diante da ausência de materiais, procurava estratégias para superar as dificuldades, utilizando recursos alternativos. A professora confirmava as afirmações de Bento (1998), para quem a falta de estrutura física e material não pode justificar o trabalho pedagógico descompromissado, pois, mesmo em condições relativamente simples, é possível aplicar boas aulas de Educação Física. Seria o comportamento da professora uma exceção? Ao estabelecer contato com dois outros professores de Educação Física da escola, a pergunta inicial foi respondida: eles também se utilizavam de materiais alternativos nas aulas. No entanto, outras dúvidas surgiram. Qual a origem do comportamento desses professores? Quais os materiais utilizados? Como os materiais são construídos? A utilização de recursos diferenciados resulta de um planejamento coletivo ou parte de iniciativas individuais? Partindo de todos esses questionamentos, o presente estudo teve como objetivos:
MÉTODOS A presente pesquisa do tipo descritivo seguiu uma abordagem qualitativa. O modelo adotado foi o estudo de caso, visando obter o máximo de informações e permitir um conhecimento amplo e detalhado de evidências da prática do professor de Educação Física diante das possíveis dificuldades que encontra com a escassez de recursos materiais. Apesar deste tipo de estudo não permitir a generalização dos dados obtidos (GIL, 1999), consideramos adequado para o delineamento da pesquisa, pois a análise dessa realidade específica poderia trazer dados relevantes para o trabalho de outros profissionais da área. A amostra não probabilística e intencional foi restrita a três professores de uma escola pública estadual de Ensino Fundamental I, localizada no bairro de Perus, São Paulo, tendo população de classe média em algumas regiões e classe média baixa em outras. Para coleta de dados, utilizamos entrevista semi-estruturada, apoiada em roteiro com questões previamente elaboradas e observação assistemática não participante, na qual o registro dos fatos aconteceu de maneira informal e espontânea, sendo o pesquisador um espectador (LAKATOS; MARCONI, 1999). Antes de iniciar a coleta de dados, uma carta de informação e um termo de consentimento foram entregues ao diretor de escola e aos sujeitos, para que tomassem conhecimento sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa. Eles não só consentiram, como contribuíram prontamente. Na entrevista e na observação, foram usados dispositivos mecânicos, após consentimentos dos professores pesquisados. Durante a entrevista, o recurso do gravador de voz foi indispensável para que nenhuma informação se perdesse, permitindo uma transcrição literal. Na observação, a máquina fotográfica foi utilizada para o registro dos materiais. As entrevistas foram realizadas na própria escola. Os três professores participantes são concursados, sendo um do sexo feminino, aqui denominado P1 e dois do sexo masculino, respectivamente P2 e P3. O P3 trabalha na escola selecionada há aproximadamente cinco anos, sendo o mais antigo entre os três. O P1 e o P2 ingressaram no mesmo ano e atuam na escola há aproximadamente dois anos. Todos os entrevistados foram bastante receptivos e atenciosos, colocando-se à disposição para outros questionamentos que pudessem surgir depois da entrevista. Desde o primeiro contato, o entrevistador seguiu as orientações de Lakatos e Marconi (1999), mantendo uma conversa amistosa com o entrevistado, criando um ambiente agradável e que permitisse respostas espontâneas e naturais. Os dados coletados foram estudados, compilados e apresentados com a aplicação da técnica de análise de conteúdo, descrita por Triviños (1987). RESULTADOS E DISCUSSÃO As observações aconteceram durante 18 meses, num total de 89 aulas observadas, como se apresenta na Tabela 1. Nela, as aulas estão separadas por professor e por série. Verifica-se também que, em algumas turmas, nenhuma aula foi observada. Isso aconteceu porque P1 não responde por aulas para a 4ª série, P2 para a 3ª série e P3 para a 1ª série. Segundo P1, a divisão das aulas e séries acontece seguindo preferências e disponibilidade de cada professor. Tabela 1: Aulas observadas, separadas por professor e série.
Durante a observação, os pesquisadores registraram os materiais utilizados pelos professores, bem como a estratégia de aplicação, enfatizando os materiais alternativos. No Quadro 1, os dados foram separados por professor e agrupados por série, de acordo com o objetivo da atividade. Nesse quadro, os materiais alternativos aparecem em negrito.
Quadro 1: Materiais utilizados nas aulas de acordo com o objetivo das atividades Para classificar o que seria considerado material alternativo, foram seguidos dois critérios:
Das 89 aulas observadas, em 35 foi utilizado material alternativo; em 40, material oficial e, em apenas 14, não houve a manipulação de qualquer tipo de material. Estas 14 aulas foram aplicadas por P1, nas quais propôs brincadeiras cantadas e outras atividades, utilizando o próprio corpo do aluno para atingir o objetivo da aula, como proposto por Soler (2003). Percebemos maior frequência na utilização de materiais alternativos nas séries iniciais do Ensino Fundamental, talvez por existir, nesse período, maior preocupação com a diversidade de materiais no auxílio ao desenvolvimento da criança, como afirmam Batista (2003), Freire (1997), Soler (2003) e Santos (2004). Os autores ressaltam a necessidade de oferecer à criança, nessa faixa etária, oportunidade para manipular diferentes objetos e transformar as experiências em símbolos, além de proporcionar uma aula mais atraente para o aluno. É importante lembrar também que a presença de material alternativo apresentada acima, não impede o uso de outros materiais oficiais, como é o caso do P2 que utilizou bolas, raquetes, freesby, entre outros. Para obter mais detalhes sobre a utilização dos materiais alternativos, realizou-se entrevista com os três professores. Ao iniciar a entrevista perguntou-se se eles acreditavam que os recursos materiais existentes na escola eram suficientes e estavam em bom estado. Todos eles responderam negativamente, confirmando afirmação de Soler (2003), para quem as escolas públicas raramente apresentam espaço e material adequado para as aulas de Educação Física. Além do P2 enfatizar que "falta material, e os materiais que tem, alguns estão assim… é…danificados", P1 e P3 disseram que a compra de materiais para as aulas de Educação Física não é uma prioridade para a escola. Na segunda questão, os entrevistados deveriam dizer se utilizam materiais alternativos em suas aulas. Novamente houve uma unanimidade na resposta. Todos disseram que já utilizaram e continuam utilizando materiais alternativos. P1 afirma que compra alguns materiais e, como também trabalha em outra escola, troca equipamentos entre elas. P3 complementa, dizendo: "são vários brinquedos que a gente mesmo produz pra substituir aqueles que a gente não tem". Porém, estes materiais construídos não foram utilizados durante a observação das aulas deste último professor. Todos os recursos apresentados foram construídos a partir de materiais baratos ou recicláveis (sucata), comprovando afirmações de Freire (1997), Soler (2003), Santos (2004), Batista (2003) e Venâncio e Carreiro (2005). Enquanto P1 e P3 apenas citaram os materiais, P2 explicou como foi a construção, bem como a finalidade de seu uso. Além disso, mostrou todos os materiais por ele citados, já que o acesso a eles estava facilitado, pois a entrevista foi realizada na sala de materiais. Os professores identificaram os meios de pesquisa utilizados para criar os materiais citados anteriormente. Percebe-se que a troca de ideias com outros profissionais e o uso da própria criatividade para criar materiais que atendam às suas necessidades de conteúdo foram citadas |
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